Cinema

Pela primeira vez, desde que chegamos a Jacarta, saímos sem João. Ele ficou em casa dormindo e nós fomos ao cinema num shopping pertinho de casa. Com o trânsito daqui, perderíamos as poucas horas de sono dele no engarrafamento, caso tivéssemos que recorrer a um carro.

Andamos cerca de 15 minutos pela Jaland Senopati, uma avenida barulhenta como toda a cidade e iluminada quase que apenas pelos faróis dos carros. Sem problemas, há muitos deles e não temos dificuldades para ver onde pisamos. O que incomoda é a fumaça espessa que sai de ônibus, motos e dos carros. Aqui, as pessoas se protegem com máscaras que cobrem boca e nariz. Tem modelos pra todos os gostos: de rendinhas a estampas com caveiras.

Chegamos ao shopping um pouco ensopados pelo suor. Resultado da umidade, mesmo numa noite agradável como ontem, em que o calor não sufoca. Vimos pessoas sem filhos bebendo nos bares. "Meu Deus, existe vida noturna sem crianças!" Acho que eu e Pedro sentimos a mesma coisa: uma espécie de estranhamento por sair sem o menino, uma mistura de liberdade com apreensão. Podemos nos aventurar nas ruas escuras sem nos preocuparmos com o carrinho de bebê e, no shopping, usar as escadas rolantes. Aqui, é comum as pessoas simplesmente ignorarem os carrinhos de bebê na hora de tomar o elevador, atravessarem rapidamente na frente de pais que esperam horas por uma vaguinha para subir mais um andar.

Hoje, subimos pelas escadas vazias. Compramos nossos ingressos no cinema de lugares marcados. Assistimos a The social network e gostamos, apesar de sentirmos falta de algumas cenas, censuradas pelo governo. Quem paga para ver o filme original, ganha de brinde uma versão apropriada aos bons costumes, sem excesso de peitos ou bundas, por exemplo. Há a opção de ver tudo sem censura. É só recorrer à cópia pirata vendida numa lojinha logo ali, no mesmo shopping.

Ao fim da sessão, voamos pra casa, ansiosos pra saber como correram longas três horas sem nosso bebê. Achamos o menino com os olhinhos grandes esbugalhados à espera dos pais, no colo na babá. Ele estende os bracinhos, como se dissesse: "Mãe, tá na hora de ir pra cama".