sábado, 31 de dezembro de 2011

Natal na Indonésia

Três dias depois do 25 de dezembro, os colegas de trabalho de um amigo foram desejar-lhe feliz Natal. Mesmo não seguindo nenhuma religião cristã, cresci num país ocidental e cristão, e sei o que celebra a data: o dia do nascimento de Jesus. Aniversário, nem aqui do outro lado do mundo, se comemora três dias depois. Mas, para os indonésios, a data não quer dizer muito para muita gente. Ou quer dizer outra coisa. Talvez o censo de 2010 revele alguma pista ao mostrar que 87% da população segue a religião muçulmana.

Até onde percebo, parece que eles fazem uma relação entre o significado do Natal e a celebração mais importante para os muçulmanos, o Id-ul-Fitr, ou Lebaran (na Indonésia). A data marca o fim do Ramadan - aquele mês de jejum e sacrifícios da tradição islâmica. O Lebaran dura uma semana - a última do Ramadan.

Nessa época, os indonésios muçulmanos aproveitam para visitar a família, relembrar os ensinamentos religiosos e praticar atos de generosidade. Mais ou menos o que seria para os ocidentais o Natal. Para além do aniversário do filho de Deus, o Natal comemora também tudo o que Jesus representou. Apesar de o espírito natalino impregnar as festas de fim de ano, "feliz Natal" é só no dia 25 mesmo.

E não é só isso que os indonésios parecem ter subvertido. As decorações de Natal também podem dizer alguma coisa sobre o que o povo daqui entende dessa data. Muito menos decorada que durante o ano novo chinês, Jacarta reserva apenas os espaços internos de shoppings caros, especialmente aqueles mais frequentados pela comunidade expatriada, à decoração natalina. Tem papai Noel, árvores de Natal, neve, aquela coisa toda dos países frios e cristãos, mas sem a parte cristã!

Os gringos brancos e gordinhos têm emprego garantido nos shoppings de Jacarta
Os símbolos pagãos povoam os shoppings - muitos super criativos. Um deles, todo feito de Lego! Mas, nenhuma, ou quase nenhuma decoração, guarda algum traço religioso. O tradicional presépio - acho que o único aspecto realmente ligado à religião cristã - não está em nenhum lugar por aqui. E o aniversariante é muito pouco lembrado. O Natal indonésio, para a maioria, é ocasião de tirar fotos em meio a paisagens inusitadamente construídas em vermelho e verde.

Decoração de natal do shopping Senayan City em Jacarta.
Dentro do mesmo espírito, a tevê segue com propagandas do dia-a-dia e a Simone não canta por aqui. O Natal chega e a gente mal se dá conta. Quem diria que um dia a Simone seria uma referência de Natal na minha vida? Nos natais brasileiros da minha infância e da minha vida pré-João, sempre tinha uma oração de mãos dadas com tios, primos e avó - que eu sempre torcia pra acabar rápido pelamordedeus - , uma mesa bonita de frutas, frango, pernil assado e farofa de passas. Tinha que ser assim porque era assim que tinha que ser e era assim que sempre tinha sido.

Mas este ano não foi assim. A ceia foi peixe e camarão. E não teve oração. Dia 27, alguém me ligou para desejar feliz Natal em outra língua. E eu me peguei a pensar no que é afinal o Natal. Sem seguir uma ou outra doutrina, está muito bem pra mim que o Natal relembre os ensinamentos de um homem que teria pregado o amor, a generosidade e a paz.

4 comentários:

  1. Vivi uma situação parecida quando morava em Israel, apesar de ser a terra santa, onde tudo começou, Natal lá só tem vez em Belém e Jerusalém, porque no resto do pais é fraquinho, fraquinho.
    No kibbutz que eu morava foi cada um por sí, não trabalhamos e não teve aula não porque era natal, mas porque era Shabbat, mas como eramos vários volutários fizemos o nosso próprio Natal e deu certo, foi bem fraco é verdade, mas não deixamos passar em branco não e aqui em casa, no nosso primeiro ano só os 3 também foi bem diferente doque era no Brasil, mas os rituais e as tradiçoes continuam porque essas não importa pra onde eu for eu carrego no coração e ainda que sozinha pelo menos a oração de agradecimento eu irei repetir. =)

    Beijocas e que um Feliz Ano Novo e que você tenha uma super Noite Feliz!

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  2. Amei o post, lindo seu blog!!!
    Feliz 2012

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  3. Clarinha querida
    Feliz 2012!!!!
    Nos, eu e o Gabriel achamos linda esta decoração de Lego! Adoramos
    Muito bom o post, gosto muito das suas reflexões.
    Grande beijo

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  4. Marie Claire, tal como a Ingrid, lembrei do 'Tabaski' na Guiné Bissau dos muçulmanos, cristãos, tudo misturado. Fui convidada para a casa de um amigo e achei a forma de celebrar a data muito interessante. Gente que vem de longe, para visitar os parentes. Muçulmanos de diversas doutrinas - foi a primeira vez que dividi a mesa com uma muçulmana que cobria o rosto com véu negro, as mãos e os pés de luvas e meias pretas para não mostrar nada nada. Lá em Bissau, apesar da presença dos católicos portugueses, não tem ruas enfeitadas nem presépios, muito menos luzes de Natal, mas é por outros motivos.
    "Papai Noel mora no shopping" é a definição da Ana Maisha e não é verdade só na Indonésia. Aqui também. Tem gente que até se veste e vai aos lugares onde nenhuma criança ganha presente, a televisão mostra e todo mundo finge que foi solidário o ano todo.
    Naquela época, eu achei bom demais passar o Natal longe de tudo o que acontece aqui, mas agora com a Ana é tudo mais diferente. Esse ano fomos visitar parentes distantes no interior do Goiás. Uma bela experiência.
    Nessa foto, dá impressão clara de que o Papai Noel é mesmo um personagem assustador. Não sei quem foi que nos convenceu de que ele é um bom velhinho... Tá bem, vamos mantendo a fantasia das crianças, mas o que precisamos mesmo é mostrar a elas que bons velhinhos ou bons mocinhos e mocinhas devem existir todos os dias!
    Beijos e saudades! Que 2012 reserve gramas molhadinhas e verdinhas para todos nós rolarmos de alegria!

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