quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Licença-paternidade

Quando eu tinha 16 anos, fui fazer intercâmbio no Canadá. Um ano depois, eu não queria ir embora. Sério. Eu não queria largar a família que me acolheu e voltar pra minha família de verdade. Estranho? É. Os meus pais sempre foram ausentes na criação dos filhos. Lá em casa, não tinha conversa, comemoração de aniversário, viagens de fim de ano. Sabe aquelas coisas das quais a maioria dos adolescentes quer se livrar? Bem, eu queria experimentá-las. E lá tinha isso tudo e ainda tinha um pai super, super participativo.

Eu nunca tinha visto isso. Era ele que fazia o jantar. Ele que saía com as meninas (duas filhinhas que, na época, tinham três e seis anos) para comprar roupas. Não que a mãe não fizesse essas coisas, mas o pai fazer? Eu não estava acostumada com isso. Meu pai nem sabia, e nem deve saber, o que é trocar fralda. E era com esse pai canadense que eu ficava horas conversando sobre a vida, sentada na escada que levava para o andar de cima da casinha, onde estava o quarto do casal. Eu nunca subia, era o quarto do casal. Mas ficava lá na entradinha na escada. Era bom.

Pensei nisso esses dias, no tanto que eu gostava desse pai, dessa família. Pensei por causa do dia dos pais, quando algumas mães blogueiras discutiram o papel do pai na criação dos filhos. A maioria acredita, pelo menos foi essa minha impressão, que, mesmo os pais mais participativos, deixam a tarefa de criar os filhos, especialmente quando bebês, com as mães. Como se fosse da mulher, exclusivamente, a função de educar e cuidar e, a do pai, pagar as contas.

Bom, agora está em discussão no Congresso Nacional algumas propostas para estender o tempo da licença-paternidade, que hoje é de apenas cinco dias. Muita gente, mas muita mesmo, chiou. Estão achando um absurdo, os empresários reclamam dos gastos, dizem que não vão pagar essa conta. Tudo isso porque a proposta mais provável de ser aprovada aumenta em somente mais dez dias o prazo tão pequeno da licença-paternidade.

Quando João nasceu, eu estava muito debilitada por causa da cesariana, e era o Pedro que tinha que pegar o menino no colo sempre que ele queria mamar. Eu não fiquei boa em cinco dias, demorou bem mais que isso. Como as outras mães, que não têm o pai ao lado, fazem? Chamam as suas mães! E a tarefa de cuidar do filho vai passando de mãe pra filha!

A companhia do pai, mesmo que seja só um apoio moral, na hora de amamentar, por exemplo, deixa tudo tão mais fácil, tão mais natural. Tarefas solitárias viram, muitas vezes, distrações gostosas. Ser uma família - e isso pra mim quer dizer um cuidar do outro, se preocupar com o outro, dividir - dá muito trabalho, exige entrega, generosidade, amor e até quebra de preconceitos.

Não é simples, nem fácil e, às vezes, dá vontade de sair correndo, mas não fazer todo esse esforço é deixar de viver um monte de coisas boas juntos, entre elas, participar do crescimento dos filhos, perceber cada sorriso ou som novo do bebezinho ou vivenciar escolhas de gente grande, como aquelas que se contam sentados em escadas por aí.

A licença-paternidade não é pro pai tirar férias, é pra estabelecer os primeiros vínculos com o filho, pra se dedicar à sua família. Custa dedicação e esforço dos pais e resulta em famílias tão mais felizes. Tem dinheiro que pague?

Pra saber mais sobre as propostas de aumentar o tempo da licença-paternidade, veja essa matéria do G1.

8 comentários:

  1. Clarinha, esse texto me emocionou. Um beijo, Alexandre.

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    1. Querido, obrigada! Vindo de você, fico super lisonjeada! Beijo.

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  2. Que saudade dessa amiga linda!
    Beijos

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  3. Belo texto, Chéri querida. Que sua caminhada com a família que constrói seja muito bacana. Beijo da tia Lô.

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  4. Adorei seu blog e todas as postagens dele. Muito lindo seu esforço para cuidar do seu bebê e requerer o que é certo.

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