quinta-feira, 7 de abril de 2011

Eu não sei dar cambalhotas

Eu sei cozinhar, não morro afogada e até arrisco no francês. Mas cambalhota...

Quando era pequena, as crianças davam cambalhota e eu, nada. Na adolescência, abandonei a promissora carreira de capoeirista profissional por causa da inabilidade em cambalhotas. Mesmo com essa incapacidade de dar cambalhotas por aí, quando desse na telha, cresci e reproduzi. Mas, hoje, me lembrei da tal falta de destreza física quando participava com o menino de uma aula mamãe-bebê numa escolinha perto de casa.

Segundo a brochura da escola, a aula proporcionaria um momento de contato com outras crianças, de estímulo aos movimentos de exploração do bebê, sem pressão e numa atmosfera divertida e gentil. "Que maravilha. Vamos lá interagir com outros bebês e sair um pouco de casa".

Ao chegarmos à escola, nenhuma outra equipe mamãe-bebê. Nós éramos os únicos. "Ah, já que viemos até aqui, vamos pelo menos desfrutar da atmosfera divertida e gentil", disse a mim mesma.

A sala de aula era bem ampla e iluminada, com vários colchões e equipamentos parecidos com aqueles que vemos nas competições de ginástica olímpica transmitidas pela tevê. Tudo em miniatura. Obedeci os instrutores - eram quatro - e coloquei o menino no chão.

Queriam que ele seguisse um cronograma de atividades de ginástica. Precisava caminhar sobre os colchões, subir numa espécie de sofá em forma de triângulo, passar por uma ponte, um túnel, pular numa caminha elástica e dar cambalhotas.

"Mas ele nem sabe andar", pensei. "Não vou ser a mãe chata sabichona. Os especialistas conhecem o que fazer para estimular os movimentos livres do bebê, sem pressão, numa atmosfera divertida e gentil", ponderei sem preconceitos. "E ele pode até aprender a dar cambalhotas".

Bem menos otimista que eu quanto à execução da extensa programação ginastical para estimular os movimentos do bebê, e bem mais decidido, João escolheu outros planos: "Eu posso até pular nessa caminha elástica, daqui a alguns ANOS. Por enquanto, eu vou ali ver o espelho".

Os professores - devo insistir, eram quatro - não desistiram. Resolveram achar um amiguinho para brincar com João, a fim de estimular os movimentos livres, sem pressão, numa atmosfera divertida e gentil. Só que o amiguinho não se movimentava e nem emitia sons. Desenterraram uma boneca que deveria se parecer com um bebê, não fossem os olhos tortos, as mãos desproporcionais e a cor rosa. João ficou tão impressionado com a coisa que talvez ele evite amiguinhos por um tempo.

Não satisfeitos, os instrutores passaram a esganiçar músicas de incentivo aos movimentos livres, sem pressão, para o bebê: "La la la, pule pra lá e pra cá, la, la, la, corra, entre no túnel, dê cambalhota do lado de cá!".

João estava lacônico: "Opa, achei um chocalho". Depois de vinte minutos de uma aula que duraria 60, recobrei os sentidos e resolvi ir embora. "Não, sem antes cantarmos a música de despedida", sugeriu um dos instrutores.

Saí um pouco triste pelas expectativas frustradas. Eu não esperava amigos de pano, atmosfera opressora, músicas horrendas e atividades para amestrar macaquinhos. Eu. João, ao contrário, estava tranqüilo e feliz com seu novo chocalho.

Tudo bem. Ele não está nem aí para cambalhotas.

4 comentários:

  1. Maria Clara, você consegue transformar as "tragédias" em algo cômico! :)
    Eu fiquei impressionada com o que você disse sobre não ter parquinho ou praça aí. Deve ser bem complicado entreter um bebê sem um local de interação e tal...
    Já sei: quando você vier aqui, a gente coloca João e Téo para brincarem juntos!
    bjs

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  2. A titia vai dar cambalhotas com ele! Traz o menino pra cá que eu me ocupo de entretê-lo, sem pressão, numa atmosfera divertida e gentil! ;-)

    Amo muito essa família!

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  3. eu também não sei dar cambalhotas, não destas de capoeira.

    só sei dar aquela que põe o topo da cabeça no chão e dá um impulso com a perna e rola (cabeça, pescoço, coluna e pimba).

    aliás nem sei se ainda sei... vou tentar!

    beijoca

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