sábado, 16 de abril de 2011

Faz porque eu tô mandando

Quem nunca ouviu os pais dizerem isso quando criança é um sortudo. Minha mãe vivia repetindo: "Menina, é pra fazer porque eu estou mandando e pronto".  Toda vez que ela repetia isso, eu repassava mentalmente meus planos secretos de fuga quando finalmente completasse 15 anos. A trouxinha de roupa amarrada ao pauzinho. Eu seria independente. Freeeedom.

É difícil ensinar alguém que coloca 35 por que interrogativos na mesma frase. Como explicar tantas perguntas? Simples: "Faz porque eu tô mandando e pronto". E a raiva ia aumentado no meu peito. A cada ano o plano de fuga se aperfeiçoava.

Eu não fugi. E na época da faculdade, dos estágios, voltei a ouvir muitas variações do terrível faz porque eu tô mandando. Depois de formada, esperava mais respeito no mercado de trabalho. Eu era uma profissional. Mas, no lugar da temida resposta pronta, muitas vezes, eu não recebia resposta nenhuma. Era faz isso e pronto. Por que? Pra que? Oras, ou faz ou rua. E agora eu não tinha nenhum plano de fuga arquitetado.

Passei ao papel de mãe e empregadora. Tenho um filho bebê - ainda não chegamos à fase das explicações - e tenho uma faxineira e babá. Tenho que explicar 365 vezes por dia o que fazer: limpar aqui, ali, fazer a papinha desse jeito. Mostro como e explico tim tim por tim tim.  Sai tudo errado, tem que explicar de novo. E de novo e de novo. Oh vontade de berrar: "É pra fazer assim e pronto. Eu que mando".

Conversando com umas amigas, elas não se acanham em adotar o faz porque eu tô mandando. E olha, sai tudo certinho. Mas eu não consigo. Não que eu seja uma pessoa super boazinha, eu sei ser bem mazinha, preconceituosa e mesquinha, como você.

Sabe o que é? No faz porque eu tô mandando tem uma arrogância e uma prepotência embutidas. Os pais usam a autoridade para evitar a trabalheira do convencimento pelo argumento. O patrão, superior hierarquicamente e financeiramente, usa essa superioridade para subjugar ainda mais o seu subordinado. O subordinado não merece sequer uma explicaçãozinha. O subordinado tem é que ficar calado e obedecer porque se prestasse para alguma coisa estaria fazendo o que o patrão faz e não seria subordinado.

É uma relação perversa e cruel que evidencia as diferenças a ferro e fogo, em prejuízo do fraco, em beneficio do forte, e que parece dizer: eu sou mais velho, mais inteligente, mais rico que você e, por isso, eu que mando e ponto final. Não tem conversa.

Se uma menininha de uns quatro anos se sentia impotente, brava demais da conta, com orgulho ferido e planos de fuga por causa do faz porque eu tô mandando, imagina o estrago que isso não causa ao longo de anos a fio, especialmente para aqueles que estão em posição de sempre, sempre ouvir isso?

Sei que eu posso mudar de opinião quando meu filho estiver irritantemente fora de controle. Mas ando praticando não usar a autoridade autoritariamente com a faxineira e a babá. E olha, é uma prática e tanto.

5 comentários:

  1. Sabe Clara, em casa eu tive o exemplo da minha avó que como uma pessoa sábia e admirável bastava um olhar, não precisava nem MANDAR e todo mundo já corria fazer oque ela queria, minha tia que pedia boazinha, praticamente implorava e a criançada a fazia de boba, minha mãe que sempre muito atenciosa raramente usava o "faz que eu to mandando", mas qdo usava era com motivo e com firmeza, porém, apenas em casa, com seus funcionários ela deixava bem claro logo de cara, "se eu tiver que ficar refazendo seu trabalho ou mandando toda hora as coisas não vao dar certo, então vamos fazer assim, a gente sente, vc pega um papel anota tudo direitinho e assim fica claro e facil pra todo mundo, se tiver duvidas me pergunto, mas não saia por ai fazendo a seu modo aquilo que lhe pedi do meu jeito", minha mãe tem gente que trabalha pra ela há 20 anos ou mais.. e ai, tem meu pai é adepto 100% do estupido "Faz que eu to mandando", ele tb vira e mexe diz "manda quem pode, obedece quem tem juizo" e eu cresci pensando no quanto ele era idiota, que obvio que eu ia fazer, mas que ele era idiota de vim com grosseria, tb cresci vendo na cara dos funcionários dele o desprezo e o desprazer de trabalhar pra ele, definitivamente não é isso que quero pra minha vida,um sonho seria meu filho me respeitando como respeitei minha avó, mas como sei que isso não é tão facil assim, sigo o modelo de mamãe.

    Não se irrite, não se desgaste, vc não tem pessoas trabalhando pra vc pra ficar assim, se vc acha que a comida do seu filho não tá boa, faça vc mesma, do seu jeito, juro pra vc que não vai tomar mais doque 10 minutos do seu tempo, bem menos doque a raiva que tem quando não sai como vc quer, fui Au Pair de uma familia Holandesa e apesar de não ser nenhuma imbecil e modestia a parte cozinha muito, muito bem, eu nunca consegui fazer sequer o pure de batata como a minha host fazia, ela tinha o modo dela, eu tenho o meu, simples assim, nessa eu dancei, o meu modo era melhor que o dela e o jantar era por minha conta todos os dias. =))

    Use o caderninho,moste exatamente como quer, as vezes só dizer não adianta, especialmente com pessoas de cultura tão diferente, seja clara em suas explicações e seja como minha mãe, firme, mas longe de mesquinhez e grosseria por isso só atrasa a vida. =)

    Beijocas e um excelente final de semana.

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  2. Clara
    Eu adoto da lista do que fazer, explicando cada item. Não tem só limpar o quarto, lá está tintin por tintin o que é limpar o quarto, incluisve o obvio. No fim da jornada confiro se foi tudo feito. A lista fica pregada na cozinha, dentro de um plástico. Me maior problema tem sido fazer a pessoa adotar o hábito de lavar todos os panos depois que termina, os de limpeza e os da cozinha.
    Boa sorte

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  3. Acho que você podia tentar escrever. Colar a receita da papinha na geladeira da cozinha, quem sabe, pode funcionar. bjo

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  4. Ingrid, acho que sua mãe era o meio termo aí, né? Olha, as patinhas já estão ótimas: ou eu faço ou ela faz e sempre ficam boas! O que tá pegando é a limpeza. Acho que voou seguir a dica das meninas e anotar tudo! Mas não sei se consigo ser tão organizada como vc, Neda!!

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  5. Meninas, na boa, ja passamos de longe do "faz que eu to mandando".. quer dizer, de onde nunca deveriamos ter chegado. Tem quem aprenda com a gente e tem a gente aprendendo com alguem. Sempre que se ve numa situacao a beira do limite, tente sair da sua posicao, olhar pra isso e se perguntar "o que posso aprender aqui?". Pode contar que c vai agradecer ao inves de querer rosnar! ; ) Neh facil nao, mas vale a pena experimentar!

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