quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Os sufocos das férias de uma mãe atrapalhada

Furacão, incêndio, sala de emergência. Atraso de vôo, perda de conexão, furto, um menino no colo, 555 malas na mão, nenhum dinheiro e 24 horas de espera num aeroporto estrangeiro. Menino doente, com febre, com tosse, com dor de barriga, com prisão de ventre e pai do outro lado do mundo.

Comecemos do início. De Jacarta, partimos para Istambul. O menino para de comer.
_"Oras, isso será temporário. Apenas até ele se acostumar a viajar", ilude-se a mãe pateta sem contemplar a contradição da própria expectativa. 

De Istambul a Munique. Vão ao casamento da Tia Júlia. O menino continua sem comer. E a mãe atrapalhada persiste na viagem. Agora sem o pai.

De Munique ao Brasil. São Paulo, Brasília, Goiânia, Brasília. A mãe visita o país no período de seca braba. O menino adoece. Tosse, tosse, noites sem dormir.

De Brasília a Boston. O menino continua sem comer, apega-se à mamadeira. Tem prisão de ventre, dores abdominais, pernas rígidas e muito vômito. A mãe vai parar no ER. É seriado? Nãããão, é a mãe  inexperiente-atrapalhada. Ela não sabe que dieta pobre em fibras dá nisso. Sem menor ideia do que ocorre, pensa que o filho está tendo um treco. 

A mãe tem de correr ao hospital. É que as drogarias têm medo dos processos e só receitam o médico mais próximo. Horas, um menino desmaiado e a promessa de uma fatura astronômica depois, a mãe volta à farmácia para cumprir o que determina a receita do especialista: comprar um simples supositório infantil. 

Ainda na terra do tio Sam, menino e mãe atrapalhada se trancam em casa e estocam água. Esperam o furacão Irene. Graças a Deus, seu Destino dá uma trégua e a tempestade faz nem cosquinha. 

Trégua? Quem falou em trégua? Pois, na viagem Boston-Brasília, a mãe chega no meio da noite a Atlanta, perde sua conexão, é jogada às traças pela DELTA AIRLINES com menino, sem malas, sem ter pra onde ir, sem conhecer um qualquer, sem puto furado no bolso.  

O dia do ocorrido é feriado, hoteis lotados e a mãe cansada, perdida e desorientada, perde carteira, perde dinheiro, perde cartões, tudo. 

_"Virge Maria, minha nossa senhora", reza pra tudo que é santo. 

Eles ajudam. Consegue um brasileiro amigo, passa a noite num hotel ralé e volta ao Brasil 24 horas depois.

Aqui na terrinha, acha que tudo está bom demais. Encontra-se finalmente com o pai do menino. Anima-se:

_"Nem foi tanto perrengue assim, não é?", inebria-se de alegria .

_"Ah, não foi? Tome aí um fumacê, uns incêndios criminosos, poeira e umidade a 10%", zanga-se o Destino.

Com a fumaça invadindo a casa, foge com filho e marido pela Esplanada dos Ministérios e passa a noite do outro lado do Lago. Volta pra casa e pensa, pensa, pensa:

_"Mas, meu Deus, pra que tanto castigo?", pergunta-se, sem pretender resposta.

Mas a recebe assim mesmo:

_"Mas, minha filha, pra que tanta burrice? Não dava pra planejar menos tempo de viagem? Menos aviões, conexões? Mais maturidade para o menino? Escolher um tempo de chuvas? Arranjar companhia, braços dispostos e colo alheio para o rebento? Um pouco mais de planejamento? Um pouco menos de euforia, de estabanamento? E, sim, pelo amor de Deus, arrume bolsos separados para os cartões de crédito, para o dinheiro, para os documentos. Telefone, minha filha, arrume um telefone que funcione. Entendeu? Ou vou ter que repetir?"

_"Não, não, seu Destino, já tá anotado!", promete, torcendo para que sejam poupados na viagem de volta pra casa.

8 comentários:

  1. Caramba, Clara, que novela essas férias!! Ainda bem que vc conseguiu se sair bem dessas situações. Menina, vc é animada em fazer tanta coisa sozinha com o filhote, eu sou super medrosa de viajar sozinha com minha filha, fico só imaginando como eu faria com tanta tralha e ela pra carregar.
    Acho que vi vcs no Correio Braziliense, numa reportagem sobre as queimadas no final de semana passado. Imaginei que poderia ser alguém dos blogs que eu acompanho e agora vendo seu post confirmei minha suspeita. rss
    Abraços e boa sorte nas proximas férias.

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  2. UUUUUUUUFA Clarinha, que odisséia hein!

    Tadinho do menino tigre, pokbunny sofreu os primeiros trës meses de vida com muita prisão de ventre, eu mesma se não como direito acabo "intupida" e olha, é uma DOR sem igual!
    A vida é assim, a gente aprende com os erros, lembra quando eu enfiei o menino no carro e fomos daqui pra Hungria parando em todos os postos porque ele tava com uma diarréia surreal, nós APRENDEMOS hahahah, agora carrego um remédinho que é tiro e queda, aliás, agora eu carrego uma farmacia isso sim hahaha.

    Beijocas e espero que estejam todos bem!

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  3. Oiii..ai meu Deus,fiquei tensa lendo tudo ate chegar no final..ufa!rss..Ainda bem que tudo ficou bem,rsss..Viajar co crianças sempre é uma aventura...kkkkk
    beijos e otima semana!!
    ;-)

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  4. ai, clarinha,só de ler fiquei cansada... cansada não! desesperada! o que é isso? é muita intercorrência azarada para uma pessoa só! fiquei me imaginando no seu lugar!
    beijoca e fica com os pés na terra por uns minutinhos mais...

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  5. Nossa, mas a aventura foi realmente uma "provação", hein? Que bom que João está bem agora e vocês estão todos juntos! A volta com certeza será mais calma! Como vocês estão de planos para esses últimos dias por aqui? Pensei num passeio pela manhã, para podermos ir a um lugar aberto e deixar os meninos brincarem à vontade!Eu só não posso na quinta e na sexta porque tenho aulas.
    Bjs

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  6. Nossaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...

    Essas mães destemidas de hoje em dia!! rs

    No fim, dará um belo capítulo de livro!!

    Grande beijo!

    Dani

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  7. Faltou a dentista maluca!!!
    :)
    Deu tudo certo na volta?
    Bjo

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  8. Caramba, que droga, mas ainda bem que vcs sobreviveram e fica como aprendizado. Uma vez escrevi posts sobre perrengues em viagens com bebês (uma para uma ilha e outra para o Uruguai), mas a sua experiência é megaultrahiper pior. Poxa, pelo menos serve de aprendizado para um monte de coisas, né? Falou a Pollyanna. Mas, ó, serve mesmo, eu aprendi bastante com os perrengues que passei.
    Beijo grande

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