segunda-feira, 4 de junho de 2012

Só sei contar sozinho

Ler é o maior barato
Hoje tive uma reunião com a professora do João, miss Vanessa. Quinze minutos de uma conversa boa sobre as habilidades e dificuldades do menino ao longo de um ano na escolinha. Letras, números, formas, jogos são o seu forte. Socialização, interação, o seu fraco. Ele adora as letrinhas, as palavras, mas não de usá-las no trato social e concentra toda a sua atenção em qualquer atividade de raciocínio que envolva o menor número possível de pessoas, especialmente desconhecidas.

O desenvolvimento do letramento do menino impressiona mais que eu imaginava. Toda a escola, professora, diretora, porteiro reconhecem o menino pelas facilidades com os símbolos: 'Djoan, que número é esse?", pergunta o guarda da porta da escola. "Depois do A vem o...?, pergunta outra professora, da classe twadler, que disse estar muito triste por saber que João não frequentará sua turma em agosto, já que iremos embora. Ela estava ansiosa por um aluno que se interessa tão naturalmente por tudo que ela tenta ensinar.

Segundo a professora atual do menino, Vanessa, em dez anos de carreira, é a primeira vez que ela percebe desenvolvimento tão precoce quanto ao letramento em uma criança menor de dois anos. Ele já conhece todas as letras do alfabeto, maiúsculas, minúsculas, de forma ou cursiva, em português e em inglês. Ele sabe soletrar e ler o próprio nome. Tem noção de que o som de cada letrinha difere de acordo com o símbolo que a representa e com a língua falada. Ele sabe que o a pode ter som de ei em inglês e de apenas a em português. Ele conhece os números e já entendeu a lógica que rege a nomenclatura deles. Em muitas ocasiões, diz quarenta e dez ou trinta e dez para se referir às quantidades de dezenas representadas por 50 ou 40 respectivamente. Ele entende quantidade e já mostra que sabe contar. E conta (não apenas decorou os nomes dos números) com extrema facilidade quantidades pequenas - pelo menos até dez. 

São conceitos muito abstratos para uma criança tão pequena. Segundo Vanessa, crianças de três, quatro, cinco anos estão começando a alcançar o nível em que o menino está agora, antes de completar dois anos. Ela apontou ainda que o traço de desenho dele também é mais avançado que o da média. Ele consegue desenhar linhas paralelas e até cobrir pontilhados simples - coisa que os colegas ainda não fazem (eu nem sabia disso, achava que era normal). Ele até tenta desenhar letras. Em um dos trabalhos de desenho dele feito na escola, percebi o comentário 'Uau' registrado em caneta pela professora que me explicou o motivo da empolgação: o menino tinha feito algo parecido com um oito e dito na ocasião: eight! Ela acha que ele desenhou deliberadamente o número. Se for isso mesmo, não demora nada e ele já está escrevendo e lendo. Eu realmente não duvido. 

Esse avanço todo também nos impressiona. O mais interessante é que nós não o estimulamos. Quer dizer, não ficamos inventando atividades ou comprando coisas que possam chamar a atenção dele para que ele aprenda a ler e a contar mais rápido que a média das crianças na mesma idade.  O que notamos é que ele se estimula o tempo todo. E nós não o freamos, não o proibimos de fazer o que realmente sente prazer.

Todas as suas brincadeiras envolvem números, letras, formas. Ele prefere as músicas que falam disso, os vídeos, os apps, os livros e vê números, letras, formas nos lugares mais inusitados. Ele adora ler. Um dos poucos passeios em que ele fica tranquilo é quando vamos à livraria. Em casa, ele tem o seu cantinho de livros e fica lá, conversando com as letras, lendo do jeito dele, aprendendo tudo e se divertindo. 

Para convencê-lo a descer ao parquinho do prédio, digo que vamos primeiro brincar de contar os degraus das escadas que levam até lá e ele vai contente. Na hora de brincar de escorregador, ele quer subir e descer muitas vezes para poder contar quantas escorregou. 

Dá orgulho de ver como ele se interessa por tanta coisa que consideramos importante como ler, escrever, desenhar, pintar, contar. Mas também dá uma certa angústia em não saber lidar muito bem com isso e em conjecturar se afinal todas essas 'vantagens' em relação a outras crianças poderiam por fim distanciá-lo ainda mais do convívio social que parece amedrontá-lo tanto. Acho que no fundo faltam primos, irmãos, tios, tias, avós para nos ajudar a brincar de contar degraus.

Em tempo: depois de ter publicado esse texto, descobri que o menino já está conseguindo desenhar algumas letras. Perceba, no quadro magnético registrado abaixo, o A bem feitinho, duas letra S, um X, algo como um C e o número 2 no cantinho esquerdo:


8 comentários:

  1. A maternidade nos traz tantas dúvidas, tantas inseguranças!! O emdo constante de que alguma coisa vá dar errado, que nosso filhote acabe não sabendo ser feliz quando crescer...
    Você tem um bebê super dotado, não há nenhuma duvida nisso.
    E vocês não vão precisar se preocupar com a vida academica dele,e ssa, pelo jeito, está garantida.
    O grande desafio vais er encontrar uma forma de incentivá-lo ao convívio com seus colegas, mostrar-lhe a beleza dos relacionamentos ( que também trazem dor), ensiná-lo a se divertir nadando no rio ou subindo em árvores.
    Minha querida, você, como todas as outras mães, vai passar pelas mesmas fases, a de descobrir como dar o melhor para o seu pequeno! Boa sorte...

    ResponderExcluir
  2. Tem a Tia Mariza que lida com crianças assim como João. Tia avó do Pedro. Faça uma consulta , ela vai adorar, mora no Rio.
    Lindo demais!!!!

    ResponderExcluir
  3. O que me impressiona mais é a motivação dele. Não há uma única vez em nossas conversas pelo skype que ele deixe de mencionar letras e números. Se ele não estiver conversando conosco sobre o assunto, está envolvido em atividades relacionadas com seus livrinhos ou com os aplicativos do computador sobre esses assuntos.

    Eu jamais vi uma criança, de qualquer idade, tão motivada para aprender sobre letras e números.

    Queria tanto estar perto de vocês para acompanhar mais de perto todas essas fases...

    ResponderExcluir
  4. Maria Clara, o João realmente é incrível. A Ana Maisha está agora aprendendo a desenhar as letrinhas e sai pela rua encontrando as letrinhas do nome dela. Ela também se interessa muito por tudo que é letra, número e línguas, mas é bem diferente - e em outra idade.
    Mas quando o João vier, não importa o quanto tempo vocês passarem por aqui, mesmo que seja um pouquinho, a gente pode até usar esse interesse em comum para fazer um intensivo em socialização com ele. Isso é super importante. E acho que o nosso papel como pais e mães é acompanhar o brilho dos nossos filhos e ajudá-los onde eles mais têm dificuldades.
    É muito bom saber que você não vai ter de se preocupar com o desempenho dele na escola, em momento algum. Mas vão ter que ajudá-lo e muito a socializar. Óbvio que ele não precisa ser a criança mais simpática e socializável do mundo, acho que existe uma pressão enorme sobre as crianças que são introspectivas - e às vezes é desnecessário, mas vai ser bom soltar ele um pouquinho. Fazer com que ele se divirta com outras crianças - e não apenas sozinho. Quando eu era criança, descia embaixo do bloco com um Aurélio gigante na mão e um caderno de caligrafia. Enquanto as outras crianças corriam de um lado para outro, eu ficava buscando as palavras novas e escrevendo os seus significados. À beira da loucura, muito engraçado pensar nisso hoje. Você vê bem que a coisa se resolveu, me considero uma pessoa razoavelmente extrovertida, mas já fui muito muito introvertida - e isso não quer dizer que eu não me divertia. O João certamente vai aprender o que tiver de aprender - e você e o Pedro, como pais cuidadosos e dedicados que são, serão certamente vitoriosos nessa missão de pai e mãe! E com ajuda de tios e vós então, a coisa vai ficar boa, muito boa!

    ResponderExcluir
  5. Maria Clara, ele é super avançado mesmo. O negócio é não estimular demais nem frear.
    E estimular, isso sim, a socialização. Isso pode ser estimuladfo de muitas formas, mesmo sem família por perto. Chamando amiguinhos (com ou sem as mães) para brincarem na sua casa, estimulando isso nos parques, na própria escola. Mas a verdade também é que meninos de menos de 2 anos não se socializam tanto. As minhas se socializaram antes, mas a maioria das crianças desta idade não sabe brincar junto, brincam separadamente no mesmo espaço é isso é super normal. Mas, como eu disse, se isso te preocupa, dá para estimular um pouquinho, sem forçar.
    Beijos

    ResponderExcluir
  6. Clarinha, o João sempre me impressionou!
    Eu sou da linha que, se a criança mostra o desjo, prazer e curiosidade, deve ser estimulada. Eu acho que tem uma grande diferença entre o estimular de forma proposital, como elaborar métodos para ensinar letras, numeros, etc. e o de DAR condições para a criança seguir em frente, quando ela é "auto-estimulada". Eh algo que vem de dentro para fora, são os anseios dele. Acho que você tem um longo caminho pela frente, tanto para estimular a socialização do João quanto dar condições para que ele dê vazão a sua inteligência, respeitando, obviamente, seus limites e sua idade.
    Beijão querida ; )

    ResponderExcluir
  7. Meninas, obrigada pela contribuição de todas. É bom ouvir quem está de fora e dividir as questões que nos afligem com outras mães tão dedicadas quanto todas vocês.

    Acho que ainda é muito cedo para saber se João é algo com um super-dotado, um geninho ou se terá ou não problemas na vida escolar ou acadêmica, afinal ele ainda é muito pequeno e vai passar por muitas fases de desenvolvimento até a vida adulta. Mas, hoje, ele está bem avançado em relação a letras, números, formas, desenhos. E tudo para ele é como uma grande brincadeira. A expressão dele muda - para muito melhor - quando propomos alguma brincadeira que envolva qualquer desses elementos.

    Sobre a sociabilidade, concordo com a Flavinha quando diz que há uma exigência muito grande em relação às crianças mais introspectivas e com a Paloma ao apontar que o menino ainda nem entrou direito na fase de socialização. Mas a minha observação de que ele não gosta muito de interação parte da comparação com outras crianças que estão na mesma faixa etária. Percebo que elas conseguem se relacionar bem mais tranquilamente que ele.

    Também considero que a timidez do João pode ter a ver com os nossos traços de personalidade (meu e do pai). Eu quase não falava com ninguém que não fosse da família e o Pedro diz que era tímido também. Mesmo assim, acho que seria bom tentar colocá-lo em contato com mais crianças e pessoas em geral para estimular mais esse lado. Agora acho que seria um ótimo momento para pensar em escolinhas em que ele possa conviver com crianças de diferentes idades (antes eu tinha medo que ele se machucasse) para poder ter a possibilidade de interagir com um monte de crianças diferentes. E, com a nossa mudança de cidade, espero muito poder seguir sua dica, Paloma, e ir a parques, espaços onde haja gente, porque aqui é impossível.

    ResponderExcluir
  8. Como não sou mãe, não posso dar os conselhos acima, kkkk! Mas continuo achando o João SENSACIONAL!!!

    ResponderExcluir

Comente aqui!