"_O bebê nao tem direito a bagagem."
"_Mas praticamente todas as malas são dele!"
"_Ah, e o carrinho conta como uma mala de adulto."
Deixamos quase tudo pra trás pra poder levar a mudança do João. Mesmo assim, ainda em Brasília, tudo que restou de uma mala recheada de brinquedos cuidadosamente selecionados para serem usados do outro lado do mundo (aqui) foi um hipopótamo musical, um cebolinha bom para gengivas desdentadas e uma girafinha de pelúcia. Enfiamos nas mochila. Colocamos o hipopótamo cantante em uma delas e, vez ou outra, a mala começava a emitir barulhinhos irritantes de brinquedos de criança. Tudo pronto. Ok, go!
Duas horinhas depois chegamos em São Paulo: comida boa, primeiros pingos de chuva da vida do menino, encontrinhos com amigos em padarias gostosas. Hora de ir embora de verdade. Alugamos um táxi pra nos levar a Guarulhos. Espremidos entre carrinho de bebê, cadeirinha para automóvel, muitas malas e mochilas.
"_Qual companhia, senhor?", perguntou o taxista.
Blim, blim, blim, blim, blim
"Como?"
"_Ai, desculpa, foi a mochila. Emirates, Emirates."
Despachamos quase tudo. Ficamos com as mochilas - blim, blim, blim - e o menino que se esguelaaaaava. Ai, meu Deus. Vamos tacar dramim no menino. Será? Espera mais um pouco. Dá mamá. Dormiu. Ufa. Coloca no bercinho. Tira do bercinho, tem turbulência.
"_Meu Deus. Meu Deus", desespera-se o pai amedrontado, amareliiinho, com dor de cabeça, com dor de barriga, com sono, atarantado.
Vai passar, vai passar, vai passar. Passou. Passaram oito horas de avião. Faltavam mais sete. Pega o menino, dá mamá, coloca no bercinho, anda com o menino no corredor, mostra os botões, as luizinhas do avião, dá mama, troca a fralda, pega o lenço umedecido na mochila - blim, brim, blim - coloca pra dormir no bercinho.
Chegamos a Dubai. A maior parte já foi. Só faltam mais cinco horas de espera e mais nove de vôo. Que alívio. Do avião, não dava pra ver nada de Dubai. Chegamos de madrugada. De tarde pra nós. Começava a confusão do fuso. Começava a confusão, afinal.
Descemos, pegamos a cadeirinha do bebê, o bebê, as mochilas. Blim, brim, blim, tovaca o hipopótamo dentro da mochilinha. Entramos no aeroporto que poderia ser qualquer aeroporto de qualquer cidade grande, só que com milhões de pessoas fazendo compras de madrugada. Uma feira chique! Caraca, tinha um cara de turbante.
"_Olha, outro ali de vestido. Dois homens de vestidos E de mãos dadas. Uma mulher de burca, outra, mais outra".
"_Maria Clara, para de falar das pessoas na cara delas".
"_Mas elas nao entendem nada...Olha, outra de burca".
Tinha chuveiro! Tinha hotel. Tinha um monte de lojas.
"_Uhmm, l´Occitane..."
Cansados, ficamos meio inertes. Nao sabíamos bem o que fazer. Banho, definitivamente. Compramos toalhas a cinco dólares e descolbrimos que um dólar vale três dinheiros em Dubai. Entro no banheiro. Volto desanimada 15 minutos depois.
"_Puxa, a água tava fria".
É a vez do Pedro. Ele volta com odores bem mais agradáveis depois de dez minutos.
"_O meu tava quentinho".
"_Ah, é? Droga."
Decidimos comer alguma coisa não exótica: Mcdonalds. Uma porcaria sem gosto, claro. Fizemos hora, morremos de frio, procuramos casacos, passeamos com João. Compramos um pacote extra de fraldas depois de passar um tempão pra descobrir o tamanho. Enfiamos na mochila. Blim, brim, blim, insistia o hipopótamo sem agradar ninguém.
Finalmente, perto da hora do embraque, nos sentamos. Meio acordados, meio dormindo. Tento fazer o menino adormecer. Uma mulher com cara de indiana se senta ao meu lado. Fica olhando pro João. Mexe com ele.
"_Your baby is soo sweet", diz, passando os dedos na cabeça dele.
"_Please, do not bother him. Let him rest".
Eu não disse isso. Mas quis muito.
"_Heheh, thank you", falei.
É claro que o menino acordou. Virou os olhinhos para a acordadora de bebês alheios, quis conversar. Damm it!! Parou de mamar, sem chance de dormir antes da decolagem.
Mais choro na hora de levantar vôo. Pega, nina, dá mamá. Dorme. Tudo de novo. As horas não paaaaassam! Milhões de filmes pra assistir. Escolho o Príncipe da Pérsia. João acorda. Paro o filme. Dá mamá, nina, faz dormir. Coloca no bercinho. Volto a assistir o filme. Turbulência. Paro o filme. Pego o João. Nove horas depois e nenhum filme assistido, pousamos. Enfim, Jacarta.
"_Olha o Túlio ali com a camisa do Palmeiras".
Que bom ver uma cara conhecida. Passamos a imigração. Recebemos carimbos nos passaportes e uma ficha que explica: drogas são poibidas e traficantes recebem pena de morte. Sem drogas. Tudo ok.
Na esteira de bagagens, percebemos outros brasileiros. Surfistas. Eles trazem grandes pranchas. Nossas malas chegam depois de horas. Uma vem destruída. Um motorista nos espera. Vamos para o estacionamento.
"_Nossa, que calor!".
Parece uma estufa. Quente e úmido. O caminho até o hotel é uma rodovia de várias pistas bem cuidadas. A cidade é grande, é enorme. Só vejo shoppings, muitos arranha-céus. Casinhas pobres embaixo dos viadutos. Propagandas com gente ocidental. Opa, tem uma asiática ali na da l´Oreal. Talvez porque o cabelo delas é tão mais bonito que o nosso!
Avistamos o hotel. Chegamos em casa. Pelo menos pelos próximos oito dias.
Ai meu Deus, deve ser péssimo viajar tão longe com um bebezinho! Cansei só de ler, imagino você!
ResponderExcluirMinha heroína!
ResponderExcluirRi muito, mas quase chorei também...
Saudades
Boa sorte nessa jornada, Mary Clar. Só acabou de começar! :)
ResponderExcluirMinha amiguinha, foi cansado, mas que bom que tudo deu certo! Como vão os primeiros dias? Fiquei doida pra conhecer já! Quanto ao calor, aqui também passo o mesmo! Quente e úmido! Horríveeeellll!!! Mas depois de um tempo eu juro que você se acostuma. Tô curiosíssima pra ver fotos e saber como estão sendo esses primeiros dias! Bjão!
ResponderExcluirQue lindo o texto, Clarinha! Fiquei emocionada.
ResponderExcluirE nem dá pra culpar a indiana. Se eu sentasse do lado do João, tbem ia acorda-lo pra brincar. Quem mandou ter filho tão cuti?
Bjo!
Escrevi uma mensagem enorme, mas apagou tudo aqui...
ResponderExcluirEm resumo, eu dizia que parece que foi ontem que li seu blog pela primeira vez... vc estava saindo do trabalho, ainda grávida, e a viagem era um plano distante. Hoje o João já nasceu e a viagem chegou.
Vc tratou com humor uma situação dificílima que passou, só as mães sabem como é cuidar de um bebê de 3 meses. Parabéns pela coragem e determinação.
Um grande beijo, sorte na nova jornada e lembre-se sempre que o mundo das mamães blogueiras está aqui prá te abraçar sempre que precisar.
Dani
Nossa, Maria Clara, que aventura!
ResponderExcluirA nossa aventura ao Marrocos e em Portugal foi deliciosa, sem contar, é claro, o voo de 9 horas. Em pensar que é só o começo das aventuras... Em pensar que vocês viajaram o dobro do tempo e da distância... Nossa!
Viajamos com metade da bagagem e metade do caminho, mas a Maisha tem mais que o dobro de tamanho, e eu não pensei em pagar mais um passagem só para ela sentar... Ledo engano. Pense em músculos todos doídos e na falta de conforto pra ela (que já não cabe no bercinho) e não conseguia encontrar espaço para dormir). Fora isso nossa viagem foi ótima, não sentimos tanto o fuso horário e nos divertimos bastante! Depois mando fotos. E sigo à distância, perto-longe, acompanhando o blog de vocês, as suas impressões, suas histórias e o crescimento do João. Que bom que o Cebolinha acompanhou vocês. Quando vocês tiverem endereço, a gente faz testes e manda mais brinquedos para o João. Um DVD do cocoricó vai ser obrigatório! Beijos