Na Indonésia, apesar dos substanciais avanços por quais o país passou após 32 anos de governo ditatorial de Suharto, cuja queda se deu em 1998, ainda há um abismo entre direitos de homens e mulheres, flagrante no dia-a-dia.
Segundo pesquisa de Xylia Inghan, da Universidade de Tecnologia de Sydney, publicada em 2005, a sociedade indonésia e o próprio governo reservam à mulher apenas os papeis de esposa, mãe e dona de casa, nesta ordem. Ela explica que as mulheres indonésias há muito trabalham fora, mas que esta decisão, em geral, tem a ver com dificuldades financeiras da família e sempre vem acompanhada de dupla jornada de trabalho exclusiva para as mulheres: dentro e fora de casa.
Ingham destaca que tal realidade não é vista como injusta pela sociedade, mas um preço que as mulheres devem pagar por se desviarem de suas funções naturais. Aquelas que, mesmo sem necessidade, decidem seguir uma carreira ou prosseguir nos estudos, são, no mínimo, encaradas como egoístas. As que evitam o casamento ou filhos são vistas como 'incompletas'.
Aqui, ao perguntar a uma mulher solteira se é casada, se tem filhos, mesmo que ela tenha 80 anos, é bem provável que responda: "Ainda não". A mulher sabe que deve se casar e deve ter filhos. Já aconteceu de eu fazer essa pergunta e a resposta não foi diferente da prevista. Numa tradução capenga (os que falam inglês poderão consultar o link com o trabalho original), a pesquisadora diz que a mulher nunca é percebida como um ser individual, com direitos inalienáveis.
No entanto, o respeito aos direitos das mulheres parece ter aumentado consideravelmente depois da queda do regime ditatorial. Por exemplo, não há nenhuma restrição à participação delas na vida política e uma presidente já governou a Indonésia entre 2001 e 2004, mas não foi eleita pela população. Em 2004 foram abertas eleições diretas para presidente e representantes locais.
A lei indonésia proíbe e pune com quatro a 12 anos de cadeia violência física/estupros contra as mulheres, mas casos de abusos são claramente abafados, de acordo com registros de ongs. A lei também diz que homens e mulheres têm os mesmos direitos, mas destaca que as mulheres não devem negligenciar seu papel central dentro da instituição familiar. Outra lei, "do matrimônio", determina que o homem é o chefe da família. Ou seja, por um lado, a lei trata as mulheres como iguais e, por outro, chega a especificar as desigualdades. Na prática, o que se percebe são as diferenças de tratamento.
Além disso, mesmo com o crescimento da democracia e a escolha secular de representantes de governo, é evidente que a tradição religiosa é muito forte e não raro privilegia os homens. Para se ter uma idéia, há um ministério para assuntos religiosos. Não é permitido casar-se sem haver antes uma cerimonia religiosa e o ateísmo não é oficialmente reconhecido. Aos homens muçulmanos - maior parte da população - é permitido ter mais de uma esposa (obviamente, não ocorre a contrapartida), e no caso de divórcio, é comum que o tal ministério deixe as crianças com os pais. Estes, por sua vez, decidem quando e como as mães podem entrar em contato com seus filhos.
É muito difícil que a mãe ganhe um salário maior que o do pai da criança - em 2003, a Internacional Labor Organization mostrou que, em média, as mulheres ganham 32% menos que os homens. Só o fato de a mãe ter de trabalhar já a colocaria em desvantagem em relação ao homem aos olhos da lei. A eles é esperado que trabalhem e releguem educação e criação dos filhos a outros membros da família, mas não às mães. Pensão alimentícia não é uma realidade aqui.
A mesma lei que atesta que homens e mulheres são iguais permite aos homens que se casem assim que se divorciam. As mulheres devem esperar um certo tempo. Os filhos de pais estrangeiros - e mães indonésias -
Ainda assim, a Indonésia é considerada um país muçulmano moderado, tolerante, democrático e em que as instituições públicas reconhecem e respeitam os direitos individuais e coletivos.
Feliz dia 8 de março. Por aqui, não há rosas.
Para saber mais sobre as mulheres na Indonésia, consulte:
Asia foundation
Estudo de Xylia Inghan
Relatório do departamento de estado norte-americano sobre a Indonésia
Sobre a data de hoje:
Dia internacional da mulher
Veja os outros posts da Blogagem Coletiva - Mães internacionais:
Vivendo no conforto do ocidente e de sociedades mais abertas, acabamos esquecendo que em muitos lugares do mundo as coisas são bem diferentes e nem todas as mulheres hoje estão ganhando flores e o merecido reconhecimento!
ResponderExcluirObrigada por nos lembrar disso querida!
Feliz dia internacional da mulher!
Beijocas
Ingrid
Ola Maria Clara,
ResponderExcluirEm primeiro lugar, seja bem vinda ao projeto de blogagem coletiva.
Devo admitir que o seu post era um dos que eu mais esperava pelo fato de viver numa sociedade tao diferente da que voce vive.
Adorei saber um pouco mais sobre ser mulher na Indonesia e tenho ceteza que vc podera contribuir e muito com o projeto.
Um beijo meu,
N.
Ingrid
ResponderExcluirAssim como a Nivea o seu post era um dos que mais esperava. Enquanto a maioria de nós relata o que almejamos para o futuro, na Indonésia as mulheres vivem no passado, mesmo se descontarmos as questões culturais.
Beijos e muitas rosas.
Neda
Ola Maria Clara, um excelente post no seu debut na blogagem coletiva, parabens. Beijos.
ResponderExcluirClarinha!
ResponderExcluirO dia internacional das mulheres, a data comemorativa, fez todo o sentido para mim ao ler este seu post. Pesquisei tanta coisa, mas tudo que li não se encaixava... A tal luta pela igualdade entre homens e muheres ja deu passos largos no ocidente. Temos acesso à educação, bem ou mal a mulher trabalha e alcança postos de trabalho que até então pertenciam ao redto masculino.
Agora, nada se compara à situação das mulheres que vivem sob o regime islâmico. As diferenças são gritantes e ai sim, vejo sentido na mobilização para reinvidicar direitos.
Parabéns pelo post!
Bjsss
Obrigada pelas informações. Fiquei chocada com algumas delas, especialmente em saber que em caso de separação, os pais é que ficam com as crianças... loucura!
ResponderExcluirUm beijo,
Dani
Clarinha, uau vc nos deu um banho de cultura feminina, adorei o seu post. Concordo com os comentarios acima e espero que para vc nao seja dificil conviver com tudo isto, deve ser pesado ser expectadora e cidadã em um pais assim. beijo no coraçao e parabens p vc todo dia:) carine (ainda nao estou na tua lista;)
ResponderExcluirGEnte, obrigada pela visita e pela longa leitura, heheh. Carine, já está na lista!
ResponderExcluirExclente post! Fiz uns comentários no Facebook. Tenho umas literaturas sobre o tema, caso Xuãozinho te dê uma foga!
ResponderExcluirOi Maria Clara! Tudo bem? Você é xará da minha filhota de 7 aninhos.
ResponderExcluirAdorei o seu blog!
Acabo de lançar um livro infantil e com isso estou conhecendo essas mamães blogueiras maravilhosas. A idéia da blogagem coletiva é ótima, já passei por alguns países.
Segue link da FOLHA sobre o livro infantil de minha autoria, SEGREDO SEGREDÍSSIMO. Acredito que o tema interesse às mães que acompanham o blog. Precisamos alertar e orientar as nossas crianças sobre os riscos da pedofilia.
http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/883919-livro-infantil-explica-riscos-da-pedofilia.shtml
Beijos,
Excelente post..enfurnados na nossa rotina e sedentas de cada vez mais direitos esquecemos as vezes do que acontece com nossas vizinhas..que dirá com as mais distantes...
ResponderExcluirainda temos mt que evoluir..;-(
beijos e ainda assim,parabens! sim,sim e sim,nós merecemos!!!
Clara,
ResponderExcluirNossa adorei o post, estive em Bali em 2009 e lá parece ser um mundo a parte dentro da Indonesia, a começar pela religião predominante. Fiquei encantada com a simpatia e cordialidade da população. Mas saber desses pormenores da sociedade nos mostra o quanto nós turistas somos iludidos...
um beijo
Clara, chocante, hein. E' muito triste a realidade das mulheres em alguns paìses..meu Deus, a gente fica sem palavras.
ResponderExcluirCOmo vc bem finalizou, por ai, nao ha rosas..